Desafio
Radical na Rodovia Maldita 1200 Km em 120 Horas
†
Rally da Morte †
São Paulo -> Porto Alegre
do Rio Pinheiros ao
Rio Guaíba
Rio Pinheiros
Rio Guaíba
VIA
Serra do Cafezal -
Estado de São Paulo
BR 116 / 750 Milhas
Planalto
Meridional - Estado do Paraná
''Estrada da Morte"
Platô da Serra Geral - Estado de Santa Catarina
Agosto de 2009
Largada Oficial do Rio Pinheiros: 06:00 Hrs de 15/08/2009
Chegada Máxima no Rio Guaíba: 06:00 Hrs de 20/08/2009
Rio Pelotas - Divisa de Estado SC/RS
Support Baby Bike Team
Cidade de Vacaria - Estado do Rio Grande do Sul
“Here the Devil Cries” Lavoisier Richard/Ciclista
- Everaldo dos Reis/Piloto
Apresentação
A Rodovia Federal BR-116 é uma das principais e mais importantes rodovias do
Brasil com 4.385 Km de extensão entre as cidades de Fortaleza no Ceará
e Jaguarão na divisa do Rio Grande do Sul com a República Oriental
do Uruguay.
É uma rodovia longitudinal que foi inaugurada no ano de 1951 e é a
segunda maior em extensão dentro do país, atravessando os estados
do Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo,
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Seu trecho mais famoso e também de maior importância para a economia
brasileira é entre a cidade de São Paulo (SP) e a cidade de Porto
Alegre (RS), cruzando os estados do Paraná e de Santa Catarina, ligando
a principal cidade do Brasil com a rica e produtiva região Sul da
nação brasileira. Com uma média anual de 150
mortes e centenas de graves acidentes é considerado o trecho de rodovia
mais perigoso do planeta, ocupando em pesquisas mundiais o 1º lugar
no ranking do perigo. O trecho de cerca de 1200 km entre São Paulo
e Porto Alegre atravessa 02 (duas) das maiores e mais altas cadeias
de serras do Brasil, a Serra do Mar e a Serra Geral. Com um traçado
extremamente sinuoso e um movimento intenso e frenético, principalmente
de caminhões, recebe os apelidos de: Estrada da Morte e Corredor do
Inferno.
Mapa
ampliado da Região Sul do Brasil com o traçado percorrido em verde
entre
São Paulo e Porto Alegre pela BR-116, a Estrada da Morte ou Corredor
do Inferno.
Desafio BR 116 / 750 Milhas
"Rally da Morte"
O Desafio consistiu em percorrer o trecho mais perigoso
da BR-116 de cerca de 1.200 km ou 750 milhas entre São Paulo e Porto
Alegre praticando um ciclo-turismo de alta resistência em um prazo
máximo de 120 horas ou 05 (cinco) dias,com largada às margens do Rio Pinheiros na capital paulista e chegada
no Rio Guaíba na capital gaúcha. O tempo disponível deveria ser contado
de maneira corrida, sem descontos em paradas para alimentação, pernoite,fotos
e outros, nos moldes de um Rally ciclístico contra o relógio, utilizando
02 (duas) bicicletas com características diferentes para situações
específicas de relevo, sendo uma mais leve e ágil de 21 marchas para
subidas (Diablo Sport Plus Comfort) e outra mais robusta e pesada
de 14 marchas para descidas e retas (Megara Thunder Blue Master) .
Ambas da marca XPTO e montadas em parceria com a loja ELLO Bikes,
através do gerente comercial Gilson Corsaletti.
Pré – Tour
14/08/2009
Londrina (Pr) -> São Paulo (SP)
Via
Sertanópolis (Pr) – Florínea (SP) – Tarumã (SP) - Assis (SP) – Ibirarema
(SP) – Salto Grande (SP) – Ourinhos (SP) – Santa Cruz do Rio Pardo
(SP) – Iaras (SP) – Itatinga (SP) – Torre de Pedra (SP) – Iperó (SP)
– Araçariguama (SP) – Itapevi (SP) – Jandira (SP) – Barueri (SP) –
Carapicuíba (SP) e Osasco (SP)
10:00 às 21:00
hs
Saímos da loja da Ello Bikes em Londrina
as 10:00 hs com aquele tradicional atraso e grande confusão: perde
isso, esquece aquilo, quebra uma coisa, estraga outra, etc e tal.
Após uma rápida passada pelo interior do Estado de São Paulo para que o ciclista
pudesse despedir-se de sua namorada Solange (afinal não se sabia se
o mesmo voltaria... vivo, pelo menos), pegamos a rodovia Raposo Tavares
almoçando na altura da cidade de Santa Cruz do Rio Pardo – SP por
volta de 14:00 hs, pegando em seguida a boa e famosa rodovia Castello
Branco com suas longas retas até desembocarmos no não menos famoso
Cebolão que liga as marginais Pinheiros e Tietê, já dentro da gigantesca
e neurótica cidade de São Paulo. Aí foi o caos! Em plena sexta-feira
às 19:00 hs pela marginal do rio Tietê é o seguinte: RUSH TOTAL!!
Duas horas de paranóia para percorrer cerca de 18 Km até o bairro
Tatuapé onde fomos recebidos de forma magistral e cativante pelo casal
Norma e Vicente dos Reis, tios do empolgado e estreante piloto de
apoio, além de amigo de longa data, Everaldo dos Reis. Após um verdadeiro
festival de pizzas e calzones fomos dormir, porque pela manhã logo
cedo o chicote iria estalar e o bicho estaria esperando no corredor
infernal da 116.
Parceria ELLO Bikes
Ciclista com Namorada
Restless Warriors
VÍDEOS
Etapa 1 15/08/2009
240
Km
Rio Pinheiros -> Cidade Jacupiranga (SP)
Via Taboão da Serra (SP) – Embu (SP) - Itapecerica
da Serra (SP) – São Lourenço da Serra (SP) – Juquitiba (SP) – Miracatu
(SP) Juquiá (SP) e Registro (SP).
06:00 às 19:00 hs
Tempo de Jornada de 13 horas
Panorama
Inicial Oficial do Desafio Rally da Morte
No
Início da 1ª Etapa: 06:00 hs de 15/08/09
Distância a ser percorrida
-> 1200 Km ou 100%
Tempo a ser utilizado -> 120 Horas ou 100%
Saímos da casa de nossos anfitriões às 05:20
hs após um ótimo desjejum e chegamos no ponto de partida escolhido
(Ponte Euzébio Mattoso sobre o Rio Pinheiros / Início da Av. Francisco
Moratto) às 05:50 hs. Após colocar a bike XPTO Megara “Thunder Blue
Master” no chão foi só se concentrar um pouco e disparar pela citada
avenida por cerca de 10 km até a mesma transformar-se na rodovia Régis
Bittencourt, nome dado a BR- 116 entre a cidade de São Paulo e a divisa
do Paraná com Santa Catarina. Esse pequeno trecho na zona urbana de
uma das maiores cidades do mundo foi feito de maneira cautelosa, pois
o movimento já estava meio frenético em um começo de sábado que prometia
ser quente, em todos os sentidos. Após
“cair” na famigerada rodovia foi possível perceber a real dimensão
do desafio: vários morros e movimento intenso e pesado em uma pista
que alternava bons e maus momentos, apesar de ser duplicada.
Início da Estrada da Morte
Região de Taboão da Serra
Região de Itapecerica
Com muito preparo físico e disposição foram
percorridos cerca de 40 km em 02 hs e 15 min de pedalada; um ótimo
começo! O calor estava prometendo
rachar o asfalto e a região serrana e abafada aumentava a sensação
térmica. Por volta de 10:30 hs começamos a descer a Serra do Cafezal
ou Serra do Km 90, considerada pela maioria dos caminhoneiros como
a pior do Brasil, uma extensa (32 Km) e sinuosa serra em pista simples,
por vezes sem acostamento e com engarrafamento de caminhões e automóveis
em geral, o que obrigou o ciclista a descer a maior parte do trecho
ocupando o espaço de um automóvel atrás de um caminhão do tipo baú.
Motos e carros passando pela direita, fumaça com cheiro de borracha,
todo mundo nervoso, calor intenso e o fluxo aumentando nos dois sentidos
e com a morte estendendo a mão a cada curva... Enfim uma autêntica
SESSÃO!
Região de São Lourenço
Descida da Serra do Cafezal
Big Every no Pedágio
Logo depois do final da serra, a pista voltou a duplicar-se como era
antes e foi possível imprimir um ritmo forte, aproveitando também
que começariam grandes retas e partes planas da planície do Rio Ribeira.
Entramos na referida planície, após almoçarmos, por volta de 14:00
hs e com cerca de 130 km pedalados.
Os cerca de 70 km na planície citada foram muito bem-vindos, porém
não sabíamos que aquelas seriam as últimas retas que veríamos nos
próximos 1000 km. Exatamente às 17:50 hs chegamos na cidade de Registro,
após passarmos sobre a ponte do Rio Ribeira de Iguape. O dia com 210
km percorridos desde o Rio Pinheiros tinha sido muito quente, mas
no inverno a noite é ligeira e logo começou a escurecer, dificultando
em demasia a sequência da jornada. Na cidade de Jacupiranga, por volta
de 19:00 hs e com 242 km de estrada, resolvemos, por segurança, encerrar
a primeira etapa do Rally da Morte. Atracamos em um hotel na entrada
da cidade e fomos comer frutos do mar para comemorar o auspicioso
rendimento ciclístico do primeiro dia pelo Corredor do Inferno.
Região de Miracatu Paulista
Hay que Endurecerse...
Planície do Rio Ribeira
Panorama
Parcial Oficial do Desafio Rally da Morte
Ao
Final da 1ª Etapa : 19:00 hs de 15/08/09
Distância total pedalada
-> 240 de 1200 Km (20%)
Tempo total decorrido -> 13:00 de 120 horas (11%)
Etapa 2 16/08/2009
210
Km
Cidade Jacupiranga (SP) ->Município
Araucária (PR)
Via
Cajati (SP) – Campina Grande do Sul (PR) –
Quatro Barras (PR) – Curitiba (PR)
05:30 às 22:30
Tempo de Jornada de 17 Horas
Panorama
Parcial Oficial do Desafio Rally da Morte
No
Início da 2ª Etapa: 05:30 hs de 16/08/09
Distância total pedalada -> 240 de 1200Km (20%)
Tempo total decorrido -> 23:30 de 120 horas (19%)
Acordamos às 05:00 hs no razoável hotel de
Jacupiranga e começamos a pedalada às 05:30 hs, sabendo que dali a
30 km ou cerca de 02 horas teríamos a primeira grande serra para “escalar”:
a Serra do Azeite ou Serra da Divisa. O dia prometia novamente altas
temperaturas, e com a brisa fresca do amanhecer por volta de 08:00
hs estávamos no pé da Serra, depois de passarmos em ritmo acelerado
pela cidade de Cajati. Após uma parada básica para a troca de roupas,
troca de bikes, fotos, filmagens e curtição geral da maravilhosa paisagem
serrana, iniciamos a subida em ritmo cadenciado, agora com a super-leve
XPTO Diablo “Sport Plus Comfort”, (projetada para subir até em árvores)
dando um tempo também, ou melhor, alguns poucos quilômetros para que
o ciclista se acostumasse com o estilo, peso, pegadas e desempenho
da “nova” bicicleta, já que as diferenças entre as duas bikes são
gritantes, e por costume e preferência o ciclista certamente escolheria
a bike anterior (XPTO Megara).
Alvorada Narcótica
Região de Cajati
Serra do Azeite
A Serra do Azeite tem uma ótima pista triplicada, ou seja, pista dupla
em duas mãos separadas por cerca de 100 metros com um acostamento
nivelado e perfeito, o que praticamente perfaz três pistas em cada
sentido com um asfalto impecável... Em resumo, um verdadeiro tapete
preto. Com cerca de 15 Km de extensão do pé ao cume, a Serra começa
com grandes curvas, subidas longas porém esticadas (suaves por assim
dizer), mas a partir de um certo ponto após sua metade, as subidas
tornam-se agudas e curtas com curvas fechadas, complicando bastante
o final da “escalada” e exigindo alto grau de esforço. Depois de algumas
paradas turísticas e cerca de 02 horas de pedal, chegamos ao ponto
que tudo indicava ser o fim da serra. E realmente era, da Serra do
Azeite sem dúvida nenhuma era, mas da sucessão de morros quilométricos
que viriam pela frente, estávamos apenas no começo; Jacupiranga está
a cerca de 60 metros do nível do mar e estávamos indo para a região
de Curitiba que está bem perto dos 1000 metros de altitude, portanto...
Entre o final da Serra do Azeite no estado de São Paulo e a Represa
do Capivari no estado do Paraná (um trecho de aproximadamente 60 Km),
as enormes montanhas vão sucedendo-se abruptamente em subidas que
superavam as vezes os 03 Km de extensão: Morro da Bica da Onça, Morro
da Polaca, Serrinha da Divisa, Morro da Jaguatirica, Morro do Apolo,
Serrinha da Represa e mais uma miscelânea de morros que se juntados
em uma cadeia contínua dariam, no mínimo, mais uma Serra do Azeite.
Com um calor fortíssimo e um dia lindo, chegamos na represa do Rio
Capivari em terras paranaenses por volta de 16:00 hs e com cerca de
120 Km de muito pedal, após termos almoçado próximo da divisa dos
estados de São Paulo e Paraná. Em condições normais, 120 Km em praticamente
11 horas de jornada seria considerada uma marca baixíssima em um desafio
radical como este, mas nas condições citadas era uma boa marca, considerando
também as várias paradas para filmagem e fotos.
SOL com o Ciclista
Território do Peito-Roxo
Everaldo na Represa
Após a represa do Rio Capivari, as subidas
diminuíram no tamanho, mas não na quantidade, tornando este um dos
piores e mais difíceis dias de todas as Hard Bike Tours.
Próximo a Curitiba e com a noite a galope, por volta de 18:00 hs de
um domingo ensolarado e já visualizando os pinheirais da região, o
movimento da rodovia ficou de assustador a tenebroso com milhares
de automóveis em alta velocidade, vindos provavelmente da Estrada
da Graciosa e das praias paulistas. Em um acostamento traiçoeiro e
com fundamental apoio do grande Everaldo que vinha atrás com luz alta
e pisca-alerta ligado, chegamos na capital paranaense as 20:30 hs,
onde no viaduto do Tarumã o ciclista encontrou-se com vários parentes
que fizeram uma verdadeira festa ao ar livre. Após fotos e abraços,
foram pedalados mais cerca de 30 Km até o município de Araucária,
na Região Metropolitana de Curitiba. Por volta de 22:30 hs nos hospedamos
no luxuoso hotel Belvedere, após 17 horas de jornada e cerca de 215 Km
percorridos em um dia bastante embaçado em termos ciclísticos.
Morro da Jaguatirica
Entardecer Paranaense
Richard com Parentes
Panorama
Parcial Oficial do Desafio Rally da Morte
Ao
Final da 2ª Etapa: 22:30 hs de 16/08/09
Distância total pedalada
-> 450 de 1200Km (37%)
Tempo total decorrido -> 40:30 de 120 horas (33%)
Etapa 3 17/08/2009
170
Km
Município Araucária (PR) ->Cidade Papanduva (SC)
Via
Fazenda Rio Grande (PR) – Mandirituba (PR) – Quitandinha
(PR) – Campo do Tenente (PR) – Rio Negro (PR) - Mafra (SC) e Itaiópolis
(SC)
08:00 às 21:00
Tempo de Jornada de 13 Horas
Panorama
Parcial Oficial do Desafio Rally da Morte
No
Início da 3ª Etapa: 08:00 hs de 17/08/09
Distância total pedalada
-> 450 de 1200Km (37%)
Tempo total decorrido -> 50:00 de 120 horas (42%)
Ao iniciarmos a terceira etapa do Rally da
Morte, o ciclista sabia que não seria um dia fácil, uma vez que os
primeiros 70 Km da jornada já haviam sido percorridos no sentido inverso
quando da Volta do Paraná – Hard Bike Tour II em outubro de 2007 entre
a cidade de Campo do Tenente e a Região Metropolitana de Curitiba
(Cidade de Pinhais). Lembrava-se bem dos enormes morros em forma de
“lançantes” (sobe e desce sequencial) no Primeiro Planalto Paranaense
ou Planalto Meridional e não conhecia, mas sabia também que ao cruzar
a divisa com Santa Catarina, já estaria na borda oriental de uma das
mais altas cadeias de serras do Brasil: a Serra Geral ou Catarinense
o que significava no mínimo, boas subidas iguais as do Planalto Paranaense,
ou seja, a previsão era de um dia altamente HARD. Afora isso, um fato
inédito em todas as Bike Tours estava para acontecer, marcando sobremaneira
esse dia. Partimos as 08:00 hs em ponto com clima agradável, porém
com uma certa instabilidade ameaçadora no horizonte ao sul para onde
seguíamos. Pouco depois do meio - dia chegamos à cidade de Campo do
Tenente, cruzando as lindas paisagens das Matas de Araucária no extremo
sudeste do Estado do Paraná e também após o ciclista rever e novamente
enfrentar os enormes lançantes do Planalto ao sul de Curitiba. O dia
permanecia agradável ao mesmo tempo que a ameaça de chuva aumentava
para os lados de Santa Catarina. Entre Campo do Tenente e a divisa
do Paraná com Santa Catarina são cerca de 20 Km e pouco antes de chegarmos
a cidade de Rio Negro descemos em altíssima velocidade uma mini-serra
de cerca de 04 Km de extensão; foi provavelmente a melhor parte ciclística
do dia, um dia “meio - bastante” complicado.
700 Km pro Rio Guaíba
Região de Mandirituba
The Boys of Four Pines
O Rio Negro divide os Estados do Paraná e
Santa Catarina na região;do lado paranaense fica a cidade Rio Negro
e após o rio, a cidade catarinense de Mafra, cidades tipo gêmeas,
divididas pelo rio e pela ponte que cruzamos na 116 ou por uma ponte
metálica na região central das cidades. Às 15:00 hs, após almoço no
Paraná e com cerca de 100 Km pedalados, “invadimos” Santa Catarina.
E nesse exato momento começou uma garoa forte, que logo transformou-se
em uma chuva considerável. Com 07 hs de pedalada até aí o rendimento
não era dos piores (nem dos melhores), e com chuva tudo ficou mais
difícil e naquela estrada, bem mais perigoso. Por volta de 17:00 hs
a chuva passou, deixando o frio em seu lugar, e havíamos avançado
cerca de 35 Km em território Barriga Verde. Os morros e lançantes
alternavan-se e a noite pareceu ter caído mais cedo naquele dia. O
acostamento nessa parte do extremo norte/nordeste de Santa Catarina
é bem ruim e sem a luz do sol fica horroroso. Continuávamos a batalha
e às 19:00 hs estávamos na casa dos 150 Km pedalados, mas as condições
eram difíceis e para completar, as 19:30 hs voltou a chover.
Ainda chovia quando ocorreu um fato que já deveria, ou melhor, poderia
ter acontecido em qualquer das aventuras já realizadas, principalmente
no pedregoso deserto da Patagônia: UMA QUEDA! Um tombo que poderia
ter tido conseqüências trágicas para o ciclista e desastrosas para
a conclusão do Rally... Em uma velocidade considerável para uma bicicleta
(25/30 Km/h) ao tentar sair do acostamento e entrar na pista aproveitando
uma trégua no movimento, a parte dianteira da bike praticamente afundou
em uma cratera entre o acostamento e a pista e aí foi “sem chance”:
queda violenta em plena pista da BR-116. Enquanto rolava no asfalto,
o ciclista via e percebia a bike também rolando atrás de si e torcendo
para que não viesse nenhum carro ou caminhão em sentido contrário.
Um tremendo susto! Cerca de 10 metros rolando na pista molhada. Por
sorte um pouco antes, logo que começou a chover de novo, o ciclista
havia colocado cotoveleiras de proteção, luvas de couro para moto
e uma jaqueta bem grossa... Enfim, o Bicho tentou, mas ainda não foi
daquela vez. Ao fazer o rescaldo do “acidente” só escoriações pelo
corpo e uma forte dor no joelho esquerdo e na palma da mão direita.
Com a Megara “Thunder Blue” também tudo bem: só arranhões na pintura
e no guidão.
Área do Tenente
Divisa de Estado PR/SC
Região de Itaiópolis
O sangue nem chegou a esfriar, em menos de
01 minuto depois do ocorrido e mesmo com a preocupação do Grande Everaldo,
a catraca já estava girando novamente e o ciclista analisando a intensidade
da dor na mão e principalmente no joelho. Além de lamentar muito que
a queda infelizmente por pouco não chegou a ser filmada, o que seria
ótimo para se colocar no DVD da aventura. Chegamos em Papanduva as
20:45 hs e resolvemos, devido a quilometragem que estava abaixo dos
200 Km esticar até a cidade de Monte Castelo (20 Km adiante), cidade
esta que está ao pé da tenebrosa Serra do Espigão, que de uma maneira
ou de outra seria “escalada” no dia seguinte. Ao nos afastarmos cerca
de 500 metros da pequena cidade de Papanduva, aconteceu de furar o
pneu traseiro da bike, aliás o único pneu furado durante todo o Rally
da Morte, sendo aquela uma péssima e inoportuna hora para tal fato
acontecer. Após análise geral da situação, da jornada e do desempenho
geral dentro do desafio, decidimos ficar em um hotel em frente ao
trevo de entrada da cidade de Papanduva. Eram 21:00 hs e havíamos
percorrido cerca de 170 Km desde as 08:00 hs ao partirmos de Araucária,
no estado do Paraná. Estávamos no limite do limite em termos de tempo
para concluirmos o desafio com sucesso dentro das 120 horas previstas.
Havia sido um dia atípico e difícil, e nas próximas e finais 57 horas
de Rally, o bicho iria ter que chorar, e chorar muito!!
Borda da Serra Geral
É Hard Bike Tour...
Sinais Sinistros
Panorama
Parcial Oficial do Desafio Rally da Morte
Ao
Final da 3ª Etapa: 21:00 hs de 17/08/09
Distância total pedalada
-> 620 de 1200Km (52%)
Tempo total decorrido -> 63:00 de 120 horas (52%)
Etapa 4 18/08/2009
250
Km
Cidade Papanduva (SC) -> Município Capão
Alto (SC)
Via
Monte Castelo (SC) – Santa Cecília (SC) –
Ponte Alta do Norte (SC) – São Cristóvão (SC) – Monte Alegre (SC)
– Ponte Alta do Sul (SC) – Correia Pinto (SC) e Lages (SC)
04:30 às 21:30
Tempo de Jornada de 17 Horas
Panorama
Parcial Oficial do Desafio Rally da Morte
No
Início da 4ª Etapa: 04:30 hs de 18/08/09
Distância total pedalada
-> 620 de 1200Km (52%)
Tempo total decorrido -> 70:30 de 120 horas (59%)
Levantamos as 04:00 hs da manhã e quase que
imediatamente, após trocarmos a câmara do pneu da Megara Thunder Blue,
fomos para pista sem café ou desjejum iniciando a pedalada do dia
às 04:30 hs. Faltando menos de 50 horas, ou praticamente 02 dias e
cerca de 550 Km até o Rio Guaíba, a situação exigia caso quiséssemos
“vencer” o Rally, atitudes radicais. Entendendo-se por atitudes radicais,
jornadas próximas ou superiores a 20 horas de duração e quilometragens
acima de 250 Km, no mínimo, nas 02 (duas) etapas restantes. Tarefa
do ponto de vista ciclístico de extrema e total dificuldade ao se
considerar, naquela altura dos acontecimentos, entre outros, os seguintes
fatores:
1) A região a ser percorrida podia ser classificada como desaconselhável
para a prática do ciclismo; tanto pelo perigo constante como pelo
relevo desfavorável, ainda mais um tipo de ciclismo de rendimento,
e um rendimento radical.
2) As serras que ainda teriam que ser “escaladas” até finalmente começarmos
a descer para a região do Pampa onde se localiza Porto Alegre, sendo
que pelo menos 02 (duas) dessas serras prometiam ser espinhosas, a
Serra do Espigão (SC) e a Serra do Rio das Antas (RS). Trocando em
miúdos: muito esforço e desgaste, muito tempo gasto e pouca distância
percorrida em cada uma das serras a serem vencidas.
3) Fatores extrínsecos como pneus furados, quebra de peças das bikes,
outras eventuais quedas, condições climáticas negativas e etc, enfim,
um conjunto de fatores que apenas e tão somente atrasariam, uns mais
e outros menos, mas essencialmente atrasariam o desempenho das pedaladas.
4) Para um ciclista de rendimento, o vento é um fator importante a
ser considerado ainda mais se for um vento forte e contrário. Na região
em que estávamos e também para a qual iríamos o vento predominante
é o poderoso Vento Sul (Minuano para os gaúchos e Pampero para argentinos
e uruguaios). A tendência era de que teríamos que enfrentá-lo até
o fim do Rally, pois estávamos indo para o Sul, que é de onde ele
sopra para o Norte. Um vento da intensidade do Minuano soprando contra
seria mais um forte complicador.
5) E para completar o quadro, a chuva forte e torrencial que atravessara
a noite e prometia ser companheira de viagem por um bom tempo... E
isso era péssimo!
Serra do Espigão
Every nas Pedras
Água no Topo da Serra
Com muita água caindo sobre o capacete em
uma escuridão total e com o ciclista sentindo o joelho esquerdo um
pouco “estranho” e uma forte dor na mão direita, disparamos pela grande
rodovia utilizando a pesada e robusta Megara Thunder Blue e sabendo
que dali a cerca de mais ou menos 30 Km iríamos encarar a sinistra
e altíssima Serra do Espigão. Com a adrenalina vazando pelos poros
e um ritmo forte e constante chegamos na base da serra por volta de
06:00 hs depois de um Pit-Stop relâmpago na cidade de Monte Castelo
para um café da manhã.
A Serra do Espigão faz parte da cordilheira da Serra Geral, uma das
maiores e a mais alta do Brasil, e também já era conhecida do ciclista
que havia travado duelo com a mesma na Volta do Paraná – Hard Bike
Tour II em outubro de 2007 na altura da cidade paranaense de General
Carneiro – é uma serra enorme, comprida e muito alta chegando bem
próximo dos 1.300 metros de altitude. Para se ter uma idéia de sua
dimensão, a distância em linha reta de onde estávamos até a região
de General Carneiro é de cerca de 280 Km.
Ainda embaixo de chuva e numa escuridão tétrica iniciamos a subida,
o trecho de serra a nossa frente não era muito extenso (cerca de 10
Km) mas era bem alto e íngreme, com um acostamento simplesmente horroroso
com muitas pedras soltas e bem esburacado; em alguns trechos realmente
não houve condições de pedalar e a bicicleta teve que ser empurrada
e em outros o carro de apoio teve que se distanciar do ciclista devido
ao movimento que já naquela hora da manhã começava a se avolumar (principalmente
caminhões), e o risco de acidentes de se trafegar de uma maneira “não
convencional” em uma pista simples, molhada e escura de uma serra
nervosa e complicada, era enorme e iminente. Por sorte, a medida que
subíamos, a chuva ia diminuindo enquanto o frio aumentava, dando a
entender que no alto do Platô Catarinense talvez tivéssemos uma condição
atmosférica melhor e mais favorável. Por volta de 07:30 hs com o dia
finalmente clareando, havíamos vencido a parte mais difícil da famosa
serra. O frio estava cortando as idéias e a chuva já era! Porém, como
citado havíamos vencido uma parte da serra e não toda ela; agora estávamos
no coração da cordilheira da Serra Geral, e poderia se esperar pelos
próximos 200 Km grande morros e lançantes até perto da divisa com
o Rio Grande do Sul, ou seja, outro dia estilo heavy, VERY HEAVY!!
Com algumas paradas para filmagens, fotos e etc, estávamos com cerca
de 60 Km percorridos às 09:00 hs. Era uma marca estimulante, apesar
do quadro um tanto quanto complicado. Os enormes lançantes se multiplicavam
e chegamos na simpática cidade de Santa Cecília logo após as 11:00
hs com cerca de 90 Km pedalados desde Papanduva. Praticamente 100
Km em cerca de 07 horas de pedalada, com Serra do Espigão, frio, chuva
,vento e tudo o mais, era uma quilometragem fantástica, muito boa
mesmo e bem animadora. Com a dor no joelho tendo diminuído bastante
e o sol querendo aparecer, continuamos a jornada com as tradicionais
paradas para registro de imagens e tomadas de cena para edição do
DVD da aventura, a pedalada foi evoluindo e após passarmos por Ponte
Alta do Norte e almoçarmos na cidade de São Cristóvão, chegamos por
volta de 15:00 hs num grande trevo onde a BR-116 cruza com a BR-470,
rodovia esta que cruza praticamente por inteiro o estado de Santa
Catarina de leste para oeste. A temperatura estava agradável, o joelho
não doía e os lançantes estavam um pouco mais calmos (só um pouco),
tudo isso e mais a determinação e preparo físico do ciclista, fizeram
com que no cruzamento das rodovias estivéssemos com pouco mais de
140 Km na etapa. Não era nada comemorável, mas era um número expressivo
dentro de nossas pretensões. Fizemos um lanche à base de chocolate
com mel em um posto próximo ao trevo das rodovias e “caímos” na pista
novamente. Foi uma tarde agradável e inesquecível no belo, bucólico
e calmo interior central e serrano de Santa Catarina; paisagens, campos
e vales no estilo no estilo cartão postal... VERY NICE!!
É Support Baby
Cidade de Santa Cecília
Namoradas na Cena
Após passarmos pela um tanto quanto estranha cidade de Ponte Alta
do Sul, chegamos a cidade de Correia Pinto por volta de 16:30 hs e
nosso próximo destino era uma das maiores e mais importantes cidades
catarinenses: a cidade de Lages no sul do estado, distante cerca de
70 Km da divisa com o Rio Grande do Sul. Ao chegarmos em Lages por
volta de 18:00 hs o sol já havia se recolhido e o frio acompanhado
de um vento gelado dava uma prévia de como seria aquela noite: uma
geladeira a céu aberto! Mas em pleno inverno, no alto de um dos Platôs
mais altos do país e em uma região tradicionalmente conhecida pelas
baixas temperaturas, até que estávamos com sorte, pois poderia ser
muito, mas muito pior.
Ao passarmos pela entrada principal da cidade de Lages já havíamos
ultrapassado os 200 Km de pedalada e fomos informados que o próximo
e único hotel antes da divisa gaúcha ficava a cerca de 40 Km, no município
de Capão Alto. Depois de um café com biscoitos e algumas fotos no
trevo de Lages, disparamos em direção ao Rio Grande do Sul, sabendo
que deveríamos ficar no hotel de Capão Alto. Com apoio tático fundamental
e iluminação do “brother” Everaldo passamos pela entrada de acesso
para a cidade de Capão Alto e mais alguns quilômetros depois, chegamos
ao hotel de um simpático casal de sobrenome Rech: Hotel e Restaurante
Rech; foi ali às margens da BR-116 que às 21:30 hs e com cerca de
253 Km detonados em 17 horas de árdua, porém bela jornada pelo interior
serrano de Santa Catarina que o ciclista e seu piloto de apoio aportaram.
O bicho havia chorado, e no dia seguinte choraria muito mais!!
Região Ponte Alta do
Sul
Entrada para Lages
Chegada em Capão Alto
Panorama
Parcial Oficial do Desafio Rally da Morte
Ao
Final da 4ª Etapa: 21:30 hs de 18/08/09
Distância total pedalada
-> 870 de 1200Km (73%)
Tempo total decorrido -> 87:30 de 120 horas (73%)
Etapa 5 19/08/2009
270
Km
Município Capão Alto (SC) -> Cidade São
Leopoldo (RS)
Via
Vacaria (RS) – Campestre da Serra (RS) – São
Marcos (RS) – Caxias do Sul (RS) – Nova Petrópolis (RS) – Picada Café
(RS) – Pres. Lucena (RS) – Morro Reuter (RS) – Ivoti (RS) – Dois Irmãos(RS)
- Estância Velha (RS) – Novo
Hamburgo (RS) e São Leopoldo (RS)
06:00 de 19/08 às 03:00 de 20/08
Tempo de Jornada de 21 Horas
Panorama
Parcial Oficial do Desafio Rally da Morte
No
Início da 5ª Etapa: 06:00 hs de 19/08/09
Distância total pedalada
-> 870 de 1200Km (73%)
Tempo total decorrido -> 96:00 de 120 horas (80%)
A Hard Bike Tour IV estava, como esperado e previsto, mais Hard do
que nunca nenhuma outra esteve; na noite anterior fomos dormir preocupados
pois pouco antes de chegarmos no hotel, ao passarmos em um tipo de
quiosque ou tenda de produtos da região, por volta de 20:30 hs, e
pararmos para abastecer o “radiador” dos cadáveres, tivemos a oportunidade
de ver em uma velha Telefunken, a suculenta e colírial Rosana Jatobá
anunciar em conexão nacional, no Jornal Alienal da Rede Bobo de Televisão
que um verdadeiro dilúvio iria se abater sobre o sul do País, mais
precisa e especificamente na região que estaríamos cruzando para tentar
encerrar com sucesso o desafio Rally da Morte. Se tal fato se confirmasse,
nossas chances seriam remotas. E no momento que fomos deitar, estava
chovendo, e chovendo bastante. Com o cansaço acumulado, dormimos bem
por 07 horas batidas no modesto e pouco confortável hotel do casal
Rech, que oferece contudo uma alimentação farta e saborosa servida
no fogão à lenha e com um café da manhã estilo colonial. Ao acordarmos
por volta de 05:30 hs constatamos que havia chovido muito durante
a noite, mas naquele momento ou havia cessado o aguaceiro ou a chuva
tinha dado uma trégua. Já era alguma coisa... Mais acostumado com
o peso, agilidade e desempenho final da XPTO Diablo exatamente as
06:05 hs o ciclista iniciou com sua leve e veloz bike a jornada que
prometia ser árdua e feroz, e o quadro geral, incluindo o clima era
nebuloso e insondável com variados fatores e vetores que fariam o
papel de fiel da balança para o sucesso ou não da empreitada. A distância
entre o hotel Rech e a ponte sobre o Rio Guaíba é de, com uma variação
máxima de cerca de 10 Km para mais ou para menos, de 300 Km e 300
Km com um prazo máximo de 24 horas para serem percorridos é uma distância
astronômica, beirando mesmo a utopia para um ciclista que vinha de
uma sequência extremamente brutal, não fosse por alguns detalhes que
poderiam determinar a possibilidade de se conseguir ou não ver as
águas do Rio Guaíba antes das 06:00 hs do dia 20/08/09. Eram detalhes
de ordem geofísica, ou seja, de relevo e topografia que encontraríamos
nos próximos e finais 300 Km.
Amanhecer Nervoso
Rally do Visual
Rio Pai João
Ao iniciarmos a jornada ainda em Santa Catarina,
continuávamos dentro do Platô Superior da Grande Serra Geral e isso
significava que em algum momento da etapa começaríamos a descer, e
descer muito, pois Porto Alegre está a 15 metros de altitude, e o
hotel do camarada Rech a cerca de 1100 metros acima do nível do mar.
Apesar de ainda restarem trechos de serras consideráveis em território
gaúcho, eram serras em que mais se desceria do que se subiria e os
outros grandes morros a serem vencidos como o do Rio Pelotas e os
morros de São Marcos, e outros que não tínhamos informação ou conhecimento
a respeito, não seriam dentro do contexto geral e da carga de adrenalina
vigente obstáculos perturbadores. Apesar de toda a dificuldade, a
Serra Gaúcha de maneira geral seria um grande “trampolim” para o Rio
Guaíba. Não obstante, o ciclista ainda contava ou melhor, possuía
02 (duas) cartas na manga e duas cartas do naipe de um coringa cada
uma. A primeira delas era a zona chamada de Campos de Cima da Serra,
uma área no extremo norte/nordeste do Rio Grande do Sul, entre o rio
Pelotas (divisa com Santa Catarina) e a cidade de Campestre da Serra.
Seriam cerca de 80 Km de lançantes suaves, grandes campinas onduladas
e até algumas retas que poderiam nos catapultar a excelente marca
de cerca de 100 Km percorridos por volta de 14:00 hs, mesmo com nossas
“tradicionais” paradas. O segundo coringa a ser utilizado era, já
na área do rio Guaíba, a chamada Planície das Lagoas Mirim e dos Patos.
Aí teríamos uma reta de cerca de 40 Km ligando as cidades de Novo
Hamburgo e Porto Alegre. Em terreno plano, 40 Km traduzidos em tempo,
significavam para o ciclista, no máximo 02 horas de pedalada. E além
do mais, como um sagrado e bem merecido bônus, os grandes e radicais
declives finais da Serra Geral, a partir da cidade de Caxias do Sul
(localizada a 130 Km de Porto Alegre), declives que formam a parte
final da Serra Geral no sentido Sul, até a mesma terminar na planície
das lagoas, próximo a cidade de Novo Hamburgo. Tudo isso era interessante
e favorável desde que, fundamentalmente as condições climáticas colaborassem
conosco. Em uma Hard Bike Tour, como em outros setores da vida, a
teoria não combina com a prática, e o grande barato em um desafio
como este é ter certeza que não se pode ter certeza de nada, a não
ser que com certeza deve-se pedalar... E MUITO!!
Ciclista no Rio Pelotas
Corvos do Rio Pelotas
Piloto no Rio Pelotas
Sabendo acima de tudo que nada seria fácil,
e tendo consciência do risco de se desafiar de maneira inédita e absurda
uma estrada que recebe, entre outros os apelidos de Corredor do Inferno
e Rodovia da Morte (com as centenas de cruzes que víamos a beira da
pista ao longo da louca jornada), rapidamente detonamos os 30 Km que
separam o “grande” hotel Rech do Rio Pelotas; rio este que divide
os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul na região, curtindo
logicamente as maravilhosas paisagens das últimas pedaladas em território
catarinense, com direito a um belíssimo rio em forma de cascata de
nome Pai João. Após filmagens e fotos à beira do nada pequeno Rio
Pelotas, cruzamos a ponte e entramos em terras Gaúchas pouco antes
das 08:00 hs. Para se chegar ao formoso Rio Pelotas desce-se 04 Km
quilômetros e logo após a ponte, sobe-se 04 Km, ou seja, elas por
elas... Nos Campos de Cima da Serra com o sol aparecendo de maneira
tímida, mas sem sinais de chuva e muitos visuais na cena, detonamos
os cerca de 50 Km entre o final da “Serra” do Rio Pelotas e a cidade
de Vacaria, chegando nesta cidade que é chamada de “Porta de Entrada
do Rio Grande do Sul” por volta de 11:00 hs, estando então com pouco
mais de 70 Km percorridos em cerca de 05 horas de pedal; um ótimo
começo de jornada. Após nos fartarmos em uma churrascaria na saída
da cidade e de uma rápida descansada, voltamos para a pista e reiniciamos
a “batalha”. Nosso próximo alvo era a cidade de Campestre da Serra
distante cerca de 40 Km de Vacaria. Aproveitando o relevo relativamente
favorável, o sol que abrira um lindo dia com vento fraco e curtindo
as maravilhosas paisagens dos Campos da Serra chegamos pouco depois
das 14:00 hs em Campestre da Serra. O placar tempo/distância apontava
110 Km em 09 horas de pedalada. Nada excepcional, mas para nossos
objetivos dentro do desafio, um placar simpático e promissor. Menos
de 10 Km depois de Campestre da Serra existe um vilarejo, ou melhor,
um pequeno distrito de nome São Bernardo, um lugar que exala paz e
civilidade. Da pracinha em frente a igreja olhando para o Sul, pode-se
perceber que a BR-116 desaparece, e pode-se ler em uma placa: Declive
Perigoso – Extensão 09 Km. Começa ali, na saída de São Bernardo a
sensacional descida (Serra) do Rio das Antas, em pista simples e sem
acostamento, diga-se de passagem. E pode-se afirmar que a partir da
pequena São Bernardo começa o fim da alta e extensa Serra Geral com
a primeira das várias e perigosas descidas da famosa e turística Serra
Gaúcha. A BR-116 em território gaúcho é potencialmente perigosa, principalmente
nas imensas decidas (e subidas) do final da Serra Geral, que começaríamos
a encarar a partir daquele momento.
Derradeira Divisa
Campos de Cima da Serra
Big Every em Vacaria
Sem acostamento, com uma área de escape reduzidíssima,
curvas e mais curvas e com uma parede de pedra de um lado e um precipício
de outro (guardado por um Guard - Rail) a Serra do Rio das Antas foi
para nós um saboroso aperitivo do que encontraríamos noite adentro.
Para nossa sorte, estávamos em pleno inverno numa época de entresafra
agrícola e por esse motivo, o movimento principalmente de caminhões,
era bastante reduzido. Utilizando o carro de apoio como escudo traseiro
o ciclista se atirou morro abaixo em boa velocidade, chegando na enorme
ponte em curva sobre o Rio das Antas em cerca de 10 minutos. Nesse
momento estávamos com 120 Km percorridos e o relógio marcava 16:00
hs. Após cerca de 20 minutos de curtição e fotos à beira e na ponte
do caudaloso Rio das Antas, a catraca da bicicleta voltou a girar.
Como em São Bernardo logo após a sinistra ponte pode-se ler uma placa
onde está escrito: Início do Aclive – Extensão 07 Km. Uma verdadeira
parede de asfalto com uma inclinação aguda e feroz. Com uma bike apropriada
para a situação, muita determinação e vontade, o ciclista venceu a
“Rampa das Antas” em cerca de 01 hora com direito a um viscoso suco
de uva em uma barraca turística no meio do morro, chegando ao topo
da subida por volta de 17:00 hs, com o sol já se recolhendo e a noite
chegando, trazendo com ela muito frio, obrigando-nos a mudar o figurino
e colocar roupas quentes e pesadas. No que tange ao desafio, naquele
momento “fashion” logo depois da inesquecível serra, estávamos com
130 Km e já eram praticamente 18:00 hs, ou seja, 130 Km em 12 horas
de jornada, quilometragem comemorável que só foi possível atingir
porque as previsões da colossal madame Jatobá não se confirmaram,
pelo menos para nós, ou por outra, para a região específica do Rio
Grande do Sul onde estávamos, pois segundo as notícias as chuvas foram
bem pesadas, principalmente no litoral gaúcho e catarinense.
Descida do Rio das
Antas
Baixada do Rio das Antas
Ponte do Rio das Antas
Analisando a situação tudo poderia acontecer
e tínhamos ainda as subidas de São Marcos e uma serra para subir em
Nova Petrópolis, mas sabíamos que dali algumas horas começaríamos
a descer... E a descer pra CARAMBA!! Do alto do Morro das Antas
até a cidade de São Marcos são 18 Km de boas subidas e ótimas descidas
com aquelas condições pouco favoráveis para um ciclista: pista estreita,
acostamento nulo, sequência de curvas e ainda por cima com uma lua
encoberta por nuvens dificultando a visão. Mas com tudo isso e mais
um pouco, principalmente pela empolgação e já quase certeza que concluiria
o desafio com sucesso nem que fosse por questão de minutos ou mesmo
em cima da hora, o ciclista barbarizou no pedal e passamos pela cidade
de São Marcos faltando pouquíssimos minutos para as 20 horas. Com
cerca de 150 Km percorridos até aquele momento tínhamos coberto praticamente
metade dos 300 Km necessários até Porto Alegre e o Rio Guaíba. Restando
pouco mais de 10 horas para o horário limite do desafio, a tendência
era de que as coisas “melhorassem”, principalmente a partir de Caxias
do Sul e também após a cidade de Nova Petrópolis. Com muito frio,
coragem e cautela, mas em ritmo forte e constante atravessamos os
cavernosos morros e lançantes da região de São Marcos e chegamos na
cidade de Caxias do Sul pouco depois das 21:00 hs com cerca de 160
Km percorridos e fomos direto para um pizzaria. A cidade de Caxias
do Sul nos surpreendeu bastante, primeiro pelo seu grande tamanho
com a BR-116 cortando-a em forma de avenida por uns bons 10 Km, e
segundo pela topografia; é uma cidade, digamos descendente, a BR-116
(avenida citada) é um morro só e para nós começava ali uma série de
descidas alucinantes que seriam decisivas para a conclusão satisfatória
do desafio Rally da Morte.Partimos pouco antes das 22:00 hs com muita
disposição (depois de uma overdose de massa na boa pizzaria Caxiense),
tínhamos pela frente aproximadamente 140 Km até o Rio Guaíba e cerca
de 08 horas de prazo para o horário limite. Continuávamos no limite
do limite e a madrugada anunciava-se longa e furiosa. Após Caxias
do Sul e até o distrito de Galópolis são cerca de 04 Km de pura descida
e depois mais lançantes e outras boas descidas até depois do Rio Caí,
onde nos deparamos com o último (UFA!!) grande morro ou por assim
dizer, uma mini-serra antes da cidade de Nova Petrópolis. Com
muito esforço e imensa satisfação vencemos o derradeiro grande obstáculo
chegando na cidade de Nova Petrópolis às 23:40 hs sendo que então
115 Km nos separavam do Rio Guaíba. Fizemos uma pausa para descanso
e análise do desafio; era bem provável que, salvo um acidente ou coisa
do gênero, conseguiríamos chegar dentro do prazo até o ponto determinado.
Restando 06 horas, esse era um tempo suficiente para a empreitada,
ainda mais que dali para frente a topografia seria favorável com as
grandes descidas finais (e só descidas) da Serra Geral. Sem outra
alternativa e aproveitando além do relevo em declive a noite deserta,
porém fria e escura, o ciclista resolveu em um risco extremo, porém
calculado, “rasgar” as grandes descidas à frente de Nova Petrópolis
atingindo velocidades superiores a 70 Km/h, demonstrando grande perícia
e muito sangue frio em uma pista desconhecida, escura, estreita e
sinuosa. Uma queda por qualquer motivo naquelas circunstâncias e velocidade,
seria 100% FATAL!! Mas não havíamos chegado até ali para temer a Morte
nos quilômetros finais, uma vez que estávamos travando um duelo com
ela já faziam 05 (cinco) dias por mais de 1100 Km. Foram, como imaginávamos,
cerca de 50 Km de muita adrenalina e alta velocidade em verdadeiros
precipícios, passando por pequenas e simpáticas, porém desertas (devido
ao horário), cidadezinhas como: Picada Café, Presidente Lucena, Morro
Reuter, Ivoti, Dois Irmãos e Estância Velha. Madrugada radical e perigosa,
porém inesquecível...
Com as sapatas de freio traseiro da XPTO Diablo totalmente gastas
e sem utilidade devido ao uso intenso e constante das últimas horas,
visualizamos pouco antes das 03:00 hs um enorme viaduto sobre a BR-116.
Acabava ali, a extensa, alta e difícil Serra Geral do Brasil. Estávamos
na cidade de Novo Hamburgo e no início da planície das lagoas Gaúchas
que nos levaria direto e reto ao Rio Guaíba. Com 03 horas de prazo
disponível e faltando “apenas” 40 Km em linha reta, só uma fatalidade
ao algo muito drástico para atrapalhar nossos planos. Resolvemos então,
após 21 horas de muita luta e 270 Km percorridos em uma jornada fantástica,
descansar dentro do carro por 01 hora em um posto de gasolina na cidade
de São Leopoldo, cidade esta colada a Novo Hamburgo. Os funcionários
do posto, bastante surpresos, deram uma força e “apagamos” até as
04:00 hs. Agora sim... Era só alegria, e o BICHO aos prantos, tinha
vazado em uma das curvas da Serra Gaúcha.
Região de São Marcos
Região de Nova Petrópolis
Chegando em São Leopoldo
Panorama
Parcial Oficial do Desafio Rally da Morte
Ao
Final da 5ª Etapa: 03:00 hs de 20/08/09
Distância total pedalada->
1140 de 1200Km (95%)
Tempo total decorrido-> 117 de 120 horas (97,5%)
Etapa 6 20/08/2009
35
Km
Cidade São Leopoldo (RS) -> Rio Guaíba
(Porto Alegre)
Via
Sapucaia do Sul (RS) - Esteio (RS) - Canoas (RS) e
Porto Alegre (RS)
04:00 de 20/08 às 05:42 de 20/08
Tempo de Jornada de 01:45 Horas
Panorama
Parcial Oficial do Desafio Rally da Morte
No
Início da 6ª Etapa: 04:00 hs de 20/08/09
Distância total pedalada->
1140 de 1200Km (95%)
Tempo total decorrido-> 118 de 120 horas (98,5%)
Caía uma garoa fina e fria quando pouco antes
das 04:00 hs, o simpático atendente do posto de combusíveis bateu
no vidro do carro. Havíamos descansado um pouco (cerca de 01 hora),
mas o suficiente para nos reanimar e encerrarmos com sucesso o Rally
da Morte às margens do Rio Guaíba dentro do prazo estabelecido. Agradecemos
a "força" e partimos rapidamente pela larga, extensa e bem
iluminada reta em forma de avenida que a BR-116 transformara-se e
que liga a cidade de Novo Hamburgo a Porto Alegre. Em um ritmo cadenciado
mas constante e sempre olhando no relógio, fomos passando pelas últimas
cidades de nossa aventura ciclística: Sapucaia do Sul, Esteio e Canoas,
esta já totalmente "mesclada" com Porto Alegre. A capital
gaúcha é uma grande e importantíssima metrópole brasileira com muitas
fábricas e indústrias em seu entorno e a BR-116 é gigantesca na entrada
da cidade com pistas centrais, marginais, radiais, de acesso e saída,
viadutos, canteiros pra lá, canteiros pra cá, enfim um labirinto para
quem não a conhece e está ansioso e impaciente como nós estávamos.
A garoa havia aumentado bastante quando pouco antes das 05:30 hs a
BR-116 bifurcou-se com um grande viaduto à direita e uma enorme placa
com uma seta indicativa em cima do referido viaduto apontava: RIO
GUAÍBA. Indagando um senhor que aguardava no ponto de ônibus sobre
a distância até o Rio, o ciclista ouviu uma resposta animadora com
aquele sotaque característico da região gaúcha:
"BAH, o Rio Guaíba? Perto GURI, uns 03 quilômetros no máximo,
TCHÊ!"
Imediatamente um "flashback" percorreu a mente do ciclista,
desde a saída no Rio Pinheiros até aquele viaduto que antecedia em
no máximo 3.000 metros o almejado Rio Guaíba. Em suas contas naquele
momento, tinham sido pouco mais de 1.170 Km de muita luta, coragem
e disposição, além de muito perigo e também de muitos e inesquecíveis
visuais.
Camaradas do Posto
Passando por Esteio
Invadindo Porto Alegre
Degustando os metros finais com extrema satisfação,
percebemos as luzes da ponte sobre o Guaíba cada vez maiores e mais
nítidas e então finalmente às 05:42 minutos do dia 20/08/09 o ciclista
encostou sua Bike Diablo Sport Plus Comfort em uma placa que dizia:
"PONTE SOBRE O RIO GUAÍBA - EXTENSÃO 1.100 METROS"
Chegada no Rio Guaíba
ás 05:42 hs de 20/08/09 após 119 horas e 42 minutos e 1.175
Km Pedalados
Panorama
Final Oficial do Desafio Rally da Morte
Ao
Final da 6ª Etapa: 05:42 hs de 20/08/09
Distância total pedalada->1175
de 1200Km (99,8%)
Tempo total decorrido->119:42 de 120 horas (99,6%)
Após comemorarmos por cerca de trinta minutos
a chegada com sucesso no Rio Guaíba, subimos na enorme ponte para
curtirmos o visual e tirarmos algumas fotos. Estávamos bastante satisfeitos
com nossa conquista, pois sabíamos que dificilmente alguém irá tentar
repetir o feito, considerando as dificuldades e a radicalidade do
desafio em si.
Para o piloto de apoio tinha sido uma experiência nova e diferente
em que ele com muito companheirismo e espírito de equipe durante toda
a jornada, havia desempenhado seu papel de maneira extremamente positiva.
Para o ciclista uma grande realização pessoal de poder chegar aos
45 anos e completar um desafio de proporções olímpicas dentro do prazo.
Curtindo o Visual de Porto
Everaldo no Rio Guaíba
Ciclista e Suas Guerreiras
Por volta de 07:00 hs partimos em direção a cidade de Criciúma – SC,
onde reside a mãe do ciclista e lá chegamos por volta de 11:00 hs
da manhã do dia 20/08/09.
No dia seguinte fomos para Florianópolis – SC (Praia de Canasvieiras),
visitar e rever tios e primos do ciclista. Por volta de 16:00 hs seguimos
para Curitiba – PR, onde dormimos na casa de parentes do piloto de
apoio.
Finalmente seguimos para Londrina – PR no dia 21/08/09 por volta de
10:00 hs, após revermos alguns amigos na capital paranaense. E foi
isso aí a Hard Bike Tour IV : † Rally da Morte †.
Ciclista com Mamãe
Família Richard em Floripa
Camarada Yunes de Curitiba
ANÁLISE GERAL DO DESAFIO E DA
AVENTURA NA VISÃO DO CICLISTA
Jornada turística das mais agradáveis com muitos
visuais e paisagens de cartão-postal, com várias serras e regiões
diferentes. As serras do Mar, Geral e Gaúcha oferecem visuais maravilhosos,
assim como o Planalto Meridional Brasileiro. Além dos grandes e diversos
rios que cruzamos pelo caminho. Foi uma jornada bem arriscada, porém,
compensadora.
Do ponto de vista ciclístico foi um desafio gigantesco em que determinação
e coragem, além de todo o preparo físico com o treinamento intensivo
de 15.000 Km entre janeiro e agosto foram utilizados em altas doses.
A incredulidade e o incentivo de todas as pessoas que residem, trabalham
e/ou dependem da rodovia era para nós motivo de grande satisfação
e empolgação. O relevo desfavorável, o tempo curto e a grande distância
a ser percorrida, fizeram desta, a mais difícil e radical das aventuras
do Break On Trough Project.
A chegada com 18 (dezoito) minutos antes do prazo previsto veio a
coroar 05 (cinco) dias de muito esforço, vontade e perseverança pedalando
pela mais perigosa e letal das rodovias, a BR-116 / “Estrada da Morte”.
Até a Próxima...
Etapa 1 - Piloto e Viatura à Postos
Etapa 2 - Serra do Azeite / SP
Etapa 2 - Represa do Capivari / PR
Etapa 3 - Planalto Meridional / PR
Etapa 4 - Alto da Serra Geral / SC
Etapa 5 - Rio Pelotas / Divisa SC-RS
Etapa 5 - Cascata no Rio das Antas / RS
Valeu Gilson da ELLO BIKES, Valeu Everaldo, Valeu
Geral!!