Laguna Yema - Coração de Gualamba
- Província de Formosa
DESAFIO NO PÂNTANO *1600 KM em 10 DIAS*
Via
SAVANAS, BOSQUES E PÂNTANOS
DA Planície de Gualamba
Ruta Nacional 81 - Território dos Índios Wichis - Província de Salta
"Hell Green Desert"
Camarada Ferido em la Ruta - Província de Salta
GRAN
CHACO
Ruta Nacional 16 - Transição Chaco/Andina - Província de Santiago del Estero
Extremo Norte da República Argentina (Fronteira com Bolívia e Paraguay) ABRIL / 2008
Embarque em Londrina --> Orca, Sol, Richard, Diney, Vicente e Vinny
SUPPORT BABY BIKE TEAM “Aqui o Bicho Chora”
Apresentação Geral
O Gran Chaco Americano,
localizado na porção central da América do Sul, ocupa uma área de cerca 1.100.000
de Km², envolvendo extensos territórios da Argentina, Bolívia, Paraguay e Brasil
(onde forma o Pantanal mato-grossense). Região de inigualável diversidade biológica
e cultural sendo a maior área florestal do continente, depois da Amazônia. Imensa
planície aluvial, selvagem, indomável e misteriosa com florestas baixas, matas
espinhosas, densos bosques, savanas, pântanos e/ou esteros, grandes áreas alagadas
e outras áridas, atravessada e margeada por grandes rios, entre os quais os
rios Paraná, Paraguay, Pilcomayo, Bermejo e o Salado, entre outros. Suas grandes
fronteiras naturais são:
-Ao Norte a Floresta Amazônica;
-Ao Sul a Região dos Pampas;
-A Oeste,Noroeste e Sudoeste o Altiplano da Cordilheira do Andes;
-A Nordeste o Cerrado Brasileiro;
-A Leste a Serra de Maracaju no Estado de Mato Grosso do Sul;
-A Sudoeste as Florestas sub-tropicais da fronteira Brasil – Argentina.
O termo Gran Chaco deriva
da língua Inca/Quéchua, do original “Chaqu” que significa literalmente território
de caça, ou para “cacería”.
Geográficamente é dividido
em:
∙ Chaco Boreal (Norte), que vai desde o rio Pilcomayo (fronteira Paraguay –
Argentina) até o paralelo 16, entre as cidades de Santa Cruz de la Sierra na
Bolivia e a cidade de Cuiabá no Brasil, atravessando e compondo grande parte do território do Paraguay;
∙ Chaco Central, região entre os rios Pilcomayo e Bermejo, e entre o rio Paraguay
e a Cordilheira dos Andes, em território argentino;
∙ Chaco Austral (Sul), região compreendida entre o rio Bermejo,as Grandes Salinas
de Ambargasta, a Laguna Mar Chiquita e a confluência do rio Salado com o rio
Paraná, também em terras argentinas.
Algumas áreas destacam-se
por sua importância e tamanho dentro da região, como por exemplo:
∙ A Planície de Gualamba na Argentina;
∙ Os Banhados de San Pedro no Paraguay;
∙ A Planície de Chiquitos na Bolívia e o
∙ Pantanal do Mato Grosso no Brasil.
A República Argentina
abarca 58% da superfície do Chaco ou o equivalente a 600.000 Km², compreendendo
a totalidade das porções geográficas Austral e Central do Gran Chaco. Forma
dentro do referido país a parte setentrional da grande planície Chacopampeana,
sendo que a região Chaquenha entre o rio Pilcomayo até pouco abaixo do rio Bermejo
era chamada pelos colonizadores espanhóis de Chaco Gualamba ou também Planície de la
Gualamba; área esta que foi alvo da Hard Bike Tour III.
As temperaturas na região
do Gran Chaco apresentam uma média anual em torno de 28°C ,podendo alcançar
extremos acima de 40°C em algumas regiões nos meses de verão, assim
como podem atingir temperaturas bem próximas de 0°C nas cercanias de Assunção
(capital do Paraguay), nos meses de inverno. Em geral a sensação térmica é sufocante
devido a alta evaporação como se a região fosse uma grande e verde estufa. As
chuvas geralmente torrenciais provocam grandes inundações formando grandes pântanos
e esteros (banhados).
Os povos originários
da região da planície de Gualamba, durante milênios, corresponderam e correspondem
principalmente até hoje, já que a região apresenta alto índice de população
indígenas, ao conjunto indígena chamado de Pámpidos sendo que pouco antes da
conquista espanhola receberam importantes influxos do grupo Tupi-Guarani e também
influências culturais de certos grupos originários do altiplano Andino. Destacam-se
no contexto etnográfico da região os seguintes grupos e/ou povos: Arauac, Luleviléla,
Tobas, Tupi-Guarani, Molovies, Chiriguanos, Chanes, Churupies e Chorotes entre
muitos outros.
Devido a grande diversidade de ambientes e ecossistemas como: planícies, grandes
rios, savanas secas, pântanos, banhados, regiões salinas, florestas e bosques
de arbustos conhecidos como quebrachos, a região apresenta uma altíssima e rica
diversidade de espécies animais e vegetais. A vegetação varia de acordo com
a região especifica, apresentando uma enorme gama de arvores, arbustos espinhentos,
gramíneas, palmeiras, plantas aquáticas, flores, folhagens e outras variedades
vegetais. A biodiversidade da região é considerada uma das mais ricas do planeta,
nesse contexto a fauna é grande e extremamente variada, apresentando entre outras
as seguintes espécies animais: Pumas, Jaguatiricas, Jaguar (onças), Gato-montês,
Quatis, Tamanduás, Tatus, Cervos, Porcos selvagens, Iguanas, Lagartos, Capivaras,
Lebres, Coelhos, Guanacos, Raposas, Lobos, Macacos, Cobras de variadas espécies
entre as quais Víboras e Anacondas, Jacarés, Tarântulas e Aranhas diversas,
além de várias espécies de Aves, Sapos e Rãs, Peixes, Insetos, Borboletas entre
outras variedades animais.
Ruta Nacional 16, caminho
inicial da Hard Bike Tour III
Paisagem Típica do Interior
da Planície de Gualamba
Objetivos Gerais
→ Tentar percorrer por
1600 KM ou 1000 Milhas a Planície de Gualamba, praticando o ciclismo de resistência
em um período máximo de 10 dias com uma média diária mínima de 160 KM, saindo
do rio Paraná pelo Chaco Austral (ruta nacional 16) até o início da Cordilheira
dos Andes (ruta provincial 34 e ruta nacional 05) e voltando pela região do Chaco
Central (ruta nacional 81) até Las Lomitas.
→ Conhecer, apreciar e interagir com as belezas naturais, paisagens, povos e
culturas da região, além de registrar em imagens e fotos tudo o que for interessante
e peculiar dentro da aventura ciclística proposta.
→ Tentar atingir os objetivos originais do Break on Through Project.
→ Divulgar o marketing
e a logo do patrocinador GT Bike de todas as maneiras possíveis.
Expectativa do Ciclista
em Relação ao Desafio
Tour del Chaco 1000 MILHAS
Apesar do terreno plano
em 90% da jornada a pedalada deverá ter um complicador forte e poderoso principalmente
nos primeiros 700 KM, tal complicador é o incansável vento que sopra da Cordilheira
dos Andes em direção contrária ao percurso traçado no Chaco Austral (Ruta Nacional
16), além do que a jornada irá acontecer na zona conhecida como “Polígono dos
Tornados”, podendo a qualquer momento e sem aviso prévio sermos atingidos por
um furacão (também chamado de Pampero ou Vento da Morte) de proporções e conseqüências
inimagináveis e comprometedoras para a conclusão satisfatória do evento ciclístico.
Não obstante, as etapas
poderão ser alteradas conforme a necessidade e conveniência de momento, desde
que não seja ultrapassado o limite máximo de 10 dias para percorrer os 1600
Km pré-estabelecidos conforme o roteiro definido, planejado e mapeado entre
o Rio Paraná e a cidade de Las Lomitas através da Planície de Gualamba entre
os dias 04 e 14 de abril de 2008, passando por cerca de 60 cidades do norte
argentino.
Outro fator de risco
a ser considerado é o grande numero de animais selvagens, agressivos e venenosos
que certamente cruzarão nosso caminho, principalmente na fase do Chaco Central
entre os rios Pilcomayo e Bermejo, entre os quais jacarés, víboras, tarântulas,
porcos selvagens e grandes felinos, entre outros.
Grandes retas e altitudes
baixas nas fases 1 e 3 (Chaco Austral e Central) e com altitude máxima de 600
metros na fase 2 (inicio da Cordilheira dos Andes), deverão contribuir para
um bom desempenho de maneira geral, não descartando-se outros complicadores
como: estradas perigosas e sem acostamentos, chuvas torrenciais, calor intenso
e região desértica e hostil.
Diante do exposto e
de todas as peculiaridades da região citadas na apresentação da Hard Bike Tour
III, acreditamos que teremos uma autêntica e gratificante jornada ciclística
a cumprir, dentro de tudo o que se espera de uma aventura dentro do espirito
original, puro e verdadeiro do BREAK ON THROUGH PROJECT.
Buena Suerte Para
Nosotros...
Cidade de Pozo del Tigre
Cidade de Los Blancos
VÍDEOS
Roteiro Mapeado da Hard Bike Tour III TOUR DEL CHACO 1.000 MILHAS
Roteiro traçado dentro das Províncias (Estados) de: Chaco, Santiago del Estero, Salta e Formosa
Pré-Tour
03 a 05/04/2008 Londrina – Foz do Iguaçu – Puerto Iguazú – Posadas – Corrientes
Saímos de ônibus de Londrina às 23:00
hs do dia 03 com apoio dos amigos e chegamos em Foz do Iguaçu por volta das
06:00 hs, pegando quase que imediatamente um táxi que nos levou até a cidade
de Puerto Iguazú em território argentino (Província/Estado de Misiones). Ainda
pela manhã locamos um automóvel Corsa 1.6 e partimos em direção a cidade de
Corrientes em um trajeto de aproximadamente 600 Km (via cidade de Posadas,capital
de Misiones).
Chegamos na bela cidade de Corrientes, que é margeada pelo gigantesco Rio Paraná,
no final da tarde e fomos curtir o pôr-do-sol na também belíssima e enorme ponte
General Belgrano. O Rio Paraná divide a cidade de Corrientes que é capital da
Província de mesmo nome da Província do Chaco cuja capital é a cidade de Resistência,
distante cerca de 20 Km da referida ponte; A partir do Rio Paraná estende-se
a porção Austral do Grand Chaco Americano e começa ali também a Ruta Nacional
16 que viria a ser o caminho inicial de nossa aventura ciclo-turistica.
Após filmagens e fotografias do local e do entardecer alucinante, fomos para
o centro da cidade, onde nos hospedamos no hotel Flamingo na praça central de
Corrientes que é uma cidade bastante movimentada com muita gente jovem e bonita
circulando. Fomos dormir por volta de 23:00 hs, para na manhã seguinte iniciarmos
a invasão do Chaco na deslumbrante Planície de Gualamba.
Etapa 1
05/04/2008
Rio Paraná até Saenz Peña 200 km
Distância em Rodovia ->185 km
Distância em Trânsito ->15 km
08:00 às 22:00 hs
Tempo de Jornada de 14 horas
Look the Place, Cara!
Primeiros Alvos
Total Detonation
Pipi Stop
Radiador Seco
Cidade de Quitillipi
Etapa 2
06/04/2008
Saenz Peña até Pampa de los Guanacos 180 km
Distância em Rodovia ->160 km
Distância em Trânsito ->20 km
08:30 às 22:30 hs
Tempo de Jornada de 14 horas
Sombra Rara
Cidade de Napenay
Wild Horse
Concepción City
É Nozes, Diney!
Pampa dos Guanacos
Etapa 3
07/04/2008
Pampa de los Guanacos até Taco Pozo 190 km
Distância em Rodovia ->170 km
Distância em Trânsito ->20 km 09:00 às 22:00 hs
Tempo de Jornada de 13 horas
Buenos Dias, Muchacho!
Iniciando a Batalha
Desolation Town
Las Cabritas
NightRider
Aqui é Taco Pozo...
Etapa 4
08/04/2008
Taco Pozo até Joaquín González 180 km
Distância em Rodovia ->150 km
Distância em Trânsito ->30 km 10:00 às 23:30 hs
Tempo de Jornada de 11:30 horas
Adiós, Taco Pozo!
Hard Bike Tour III
Prepara a Canoa!
Ruta Nacional 16
Talavera Alagada
Friend of Gonzaléz
Etapa 5
09/04/2008
Joaquín González até Apolinário Saravia 190 km
Distância em Rodovia ->170 km
Distância em Trânsito ->20 km
08:00 às 19:00 hs
Tempo de Jornada de 11 horas
Força no Pedal, Véio!
La Jararaca!
Iron Tour Maiden
Final da Ruta Nacional 16
Ruta Provincial 05
Very Nice Tour
Etapa 6
10/04/2008
Apolinário Saravia até Embarcación 170 km
Distância em Rodovia ->150 km
Distância em Trânsito ->20 km 08:00 às 21:00 hs
Tempo de Jornada de 13 horas
Zarpando de Saravia
Rio Dorado
Cidade General Pizarro
Diney na Função!
Tour del Chaco
Bermejo's River Bridge
Etapa 7
11 e 12/04/2008
Embarcación até Ingeniero Juárez 290 km
Distância em Rodovia →260 km
Distância em Trânsito → 30 km
08:00 hs de 11/04 às 04:00 hs de 12/04
Tempo de Jornada de 20 horas
Endurance Biker
Território Indígena
Hickmann City
Simbora Nessa?
Deserto de Gualamba
Olha Isso!!!
Etapa 8
12/04/2008
Ingeniero Juárez até Las Lomitas 180 km
Distância em Rodovia →160 km
Distância em Trânsito → 20 km
10:30 às 22:30 hs
Tempo de Jornada de 12 horas
Hell Pure Green
Hoje é uns 200...
Aqui o Bicho Chora!
É Break on Trough
Pedaladas Finais
Capela de Las Lomitas
Pós-Tour
13 e 14/04/2008 Las Lomitas – Formosa– Corrientes –Posadas Puerto Iguazú – Foz do Iguaçu - Londrina
Após o encerramento
da jornada por volta de 22:00 hs do dia 12/04/08
fomos comemorar com várias empanadas e algumas cervejas depois daquela limpeza
e organização geral na caranga. Pegamos um bom hotel na simpática cidade de
Las Lomitas e fomos tirar uma longa e reconfortante noite de sono,pois estávamos
realmente bastante cansados principalmente depois do penúltimo dia (etapa
7), quando percorri exatos 258 km em pista em uma odisséia de 20 horas, batendo
meu próprio recorde de tempo e distância.
Saímos de Las Lomitas por volta de 09:00 hs do domingo (12/04) e o Diney também
barbarizou no volante percorrendo cerca de 1200 km até Puerto Iguazú onde
chegamos por volta de 22:00 hs passando por várias cidades do norte argentino,
entre as quais Formosa, Corrientes e Posadas.
Dormimos em Puerto Iguazú e no dia seguinte (14/04) pela manhã, devolvemos
o carro e atravessamos a fronteira para Foz do Iguaçu de táxi,pegando quase
que na seqüência (13:00 hs) um ônibus para Londrina,chegando na cidade de
Little London às 21:00 hs e dando por encerrada a Hard Bike Tour III –Tour
Del Chaco.
Pós - Tour: Portal da Cidade de Las Lomitas - 13/04/2008
Pós - Tour: Camarada na Saída de Las Lomitas - 13/04/2008
Pós - Tour: Vandalismo na Ruta Nacional 81 - 13/04/2008
Pós - Tour: Região das Lomas de Vallejos - 13/04/2008
Resumo Chaco 1000 Milhas
*Aventura Maravilhosa
e positiva sob todos os aspectos possíveis, em uma região divina, selvagem,
desértica e perigosa com uma natureza em estado de pureza e beleza simplesmente
acachapante. Animais dos mais diversos cruzavam a pista com freqüência: esquilos,
tarântulas, porcos, escorpiões, raposas, grilos gigantes, serpentes e sapos
entre muitos outros, obrigavam-me a desviar a direção da bicicleta. No ar, milhares
de borboletas de várias cores e tamanhos circulavam de um lado para outro, enquanto
uma
variedade de aves fora do comum pousavam e gritavam nas imensas árvores e alagados
bosques que margeiam as intermináveis e planas retas que por vezes pareciam
não ter fim em um espetáculo de caráter fabuloso.
*Rapidamente descobrimos por que o local é conhecido como “Deserto do Inferno
Verde”: o calor é de uma intensidade absurda principalmente na região do Pampa
Del Infierno (etapas 2 e 3) com a temperatura no asfalto passando dos 40ºC e
uma sensação de iminente derretimento corporal.
*Não obstante tivemos etapas com muita chuva e temperaturas baixas e outras
com clima temperado e ameno,
que fizeram desta aventura uma verdadeira Super Hard Bike Tour,ou como a apelidamos
depois: War Chaco -1000 Milhas.
*Como era esperado a participação e (des) empenho do piloto de apoio Diney Rodriguez
foi fundamental e determinante para o sucesso ciclístico da jornada: com muito
bom humor, paciência e dedicação aos objetivos propostos o cara vibra, incentiva,
colabora e empolga-se a cada etapa concluída, vestindo e suando de forma sincera
e original a camisa das Hard Bike Tours.Sua atuação foi e pode ser definida
como excessiva e incansávelmente excepcional.
Etapa 01 - Calor Tenebroso na Ruta Nacional 16 - 05/04/2008
Etapa 01 - Piloto de Apoio Diney Rodriguez - 05/04/2008
Etapa 02 - Perdido no Meio do Gran Chaco - 06/04/2008
Etapa 04 - Passando pelo Povoado de Tolloche - 08/04/2008
Etapa 08 - Diney Curtindo e Registrando a Paisagem - 12/04/2008
Situações inesperadas
e surpreendentes dentro do difícil desafio contribuíram para tornar a aventura
fascinante:
* Na minúscula e desolada cidade de El Caburé (etapa 3) fomos a uma mercearia
e conhecemos uma tiriva que era uma figurinha carimbada: tomava coca-cola com
chocolate, entre outras guloseimas, e se apoderava de tudo o que avistava, arrastando
para seu ninho desde uma carteira de cigarros até a máquina fotográfica. “Pepe”
era o bicho!
* Logo na primeira etapa, entre as cidades de Resistência e Makallé, tivemos
a companhia, ou melhor, a concorrência de um cachorro muito louco que corria
frenéticamente pela pista ora nos ultrapassando e ora sendo por nós ultrapassado,
provávelmente em uma inusitada Hard Dog Tour. Tal situação perdurou por cerca
de 20 a 30 km até ele com certeza perceber a direção exata que seu dono teria
tomado e desaparecer em uma estrada de chão perpendicular a pista.
* Por todo Chaco e de maneira geral por toda a Argentina, encontram-se à beira
das pistas santuários e ofertórios em homenagem a figura de Gauchito Antônio
Gil. Personagem folclórico que após sua morte transformou-se em uma lenda místico-religiosa.
Desertor da Guerra do Paraguay e natural da Província de Corrientes, formou
seu próprio bando e no melhor estilo Robin Hood atacava as grandes estâncias
(fazendas) e distribuía o produto do saque entre o pobre e explorado povo do
norte-nordeste argentino. Ao ser capturado em uma emboscada policial nos idos
de 1880, falou para seu algoz antes de ser decapitado que o filho do mesmo apesar
de estar muito doente e desenganado, estaria andando são e salvo quando ele,
o sargento-algoz voltasse para sua casa. Tal fato se confirmou, a noticia espalhou-se
rapidamente e o sargento voltou ao local onde o corpo havia sido enterrado sem
a cabeça, uma vez que a mesma tinha sido levada para Buenos Aires e lá fincou
uma cruz com um pano vermelho, sendo que a partir daí começaram os pedidos e
oferendas ao mártir dos pobres; Gauchito Antônio Gil.
* Na etapa 4 um verdadeiro dilúvio se abateu sobre Gualamba complicando bastante
a aventura. Saímos de Taco Pozo com a certeza de que o bicho ira pegar e com
um horizonte cinza, ameaçador e molhado à nossa frente. Logo após a cidadezinha
de Nuestra Señora de Talavera o Diney, por conta de uma carreta, teve que sair
da pista e ... Bingo! Caranga atolada (e bem atolada) no mais puro pântano.
Eu que já havia me afastado cerca de 10 km à frente, tive que voltar até Talavera
para alugar um trator, nesse ínterim porém, apareceu um anjo com uma Pick- up
e um cabo de aço. Quando eu estava saindo de Talavera com o trator lá estava
o Diney no trevo, belo e formoso, pronto para dar seqüência na Bike Tour. Perdemos
cerca de 03 hs e 20 km. Considerando-se que 03 hs de pedal em Tour, significam
cerca de 40 km, acreditamos ter perdido de 50 a 60 km na parada. Mas valeu;
faz parte, afinal é Hard Bike Tour e quanto mais Hard, melhor a Tour.
* Na etapa 6, pouco antes da cidade de Martinez Del Tineo encontramos um gavião
no meio da pista que tinha sido atropelado não fazia muito tempo. Tentamos reanimá-lo
e eu acabei decidindo levá-lo adiante, pois se ficasse ali onde o encontramos,
certamente morreria por ser uma presa fácil, pois estava muito debilitado apesar
de bater as asas. Levei-o comigo primeiro embaixo do braço e depois encaixado
no guidão da bicicleta por uns 50 km e ele pareceu-nos ter melhorado; bebeu
muita água e piava bastante. Era uma ave enorme, linda e majestosa. No final
da tarde coloquei-o dentro do carro e ali ele dormiu na cidade de Embarcación.
A pancada porém deve ter sido bem forte e durante a noite ele teve uma hemorragia,
sendo que pela manhã seu estado era péssimo. Não encontramos um veterinário
e partimos com ele assim mesmo, deixando-o mais tarde em uma forquilha de árvore
próximo à cidade de Hickmann. Suas chances eram de poucas a remotas...
Entre outras foram variadas, engraçadas e diversificadas as situações “on Tour”.
Etapa 03 - Peppe, "La Tirivita" de El Caburé - 07/04/2008
Etapa 02 - Santuário de Gauchito Antonio Gil - 06/04/2008
Etapa 08 - Piloto Despedindo-se do Chaco - 12/04/2008
Etapa 06 - Ajeitando o Gavião para a Viagem - 10/04/2008
Etapa 06 - Hard Bike "Hawk" Tour - 10/04/2008
Etapa 08 - Banhados de Gualamba - 12/04/2008
Desafio Chaco 1000 Milhas
No que tange ao desafio
ciclístico em si e a execução das 1000 milhas propostas, o ritmo de pedalada
imprimido desde a ponte sobre o Rio Paraná até a capelinha de Las Lomitas foi
explosivo e avassalador. Sabíamos que as infindáveis retas, o forte vento, as
condições climáticas e a enorme distância a ser superada em uma região inóspita
e agressiva, poderiam e acabaram por tornar a Tour del Chaco numa verdadeira
Guerra del Chaco. Eu porém estava bem preparado, aliás muito bem preparado,
tanto no aspecto físico quanto no psicológico para encarar e literalmente, pulverizar
as rutas e retas de Gualamba. A preparação e treinamento específico para as
1000 milhas do Chaco envolveram cerca de 100 dias (24/12/07 à 03/04/08) e um
total de 6.200 km pedalados pelos arredores de Londrina.
Tínhamos plena consciência e certeza de que eu teria que pedalar muito, mais
muito mesmo. O bicho iria chorar!!
Já no primeiro dia de batalha mostrei ao Chaco que a guerra seria feroz: 187
km de pura detonação entre o Rio Paraná e a cidade de Pres. Roque Saenz Pena.
As etapas 1,2 e 3 (até Tacopozo) desenrolaram-se embaixo de um sol causticante
e impiedoso, com um consumo médio de 10 litros de tudo que fosse bebível e muito
chocolate. A grande maioria das cidades no meio do “Hell Green” são na verdade
vilarejos que nada tem a oferecer além de um mercadinho e/ou mercearia que para
nós contudo era o suficiente para abastecer o tanque: suco de soja, água mineral
e refrigerantes em uma autêntica overdose líquida. Outras entretanto, eram cidades
relativamente grandes e bem estruturadas com restaurantes e tudo o mais, como
por exemplo: Aviá Teraí, Pampa de los Guanacos, Monte Quemado além de Saenz
Pena e Taco Pozo. No caminho a grande salvação eram os poucos postos de combustível
com suas lojas de conveniências. Foram 03 dias de muito sol, sede e pedal e
com alguns pneus furados principalmente após Pampa de los Guanacos por conta
de alguns desvios e pequenos trechos em estradas de chão. A etapa 2 foi a mais
quente de todas, pois atravessamos a fervente região do Pampa del Infierno.
Chegamos em Taco Pozo com pouco mais de 500 km desde o Rio Paraná e no dia seguinte
a coisa mudou de figura e mudou radicalmente; uma tempestade durante a noite
transformou o cenário e a temperatura . Iniciamos a etapa 4 dentro e embaixo
de muita água e com muito frio além do vento que por estarmos nos aproximando
da Cordilheira dos Andes era mais forte e devido ao clima, bem gelado. Mesmo
com a situação do carro atolado durante à tarde não teve acerto : detonei 150
km até a cidade de Joaquín V. González já praticamente aos pés da Cordilheira
de onde já se avistavam as chamadas Sierras Subandinas, e ainda fomos premiados
com um arco-íris nervoso no final da tarde.
Como a maior parte das cidades ficam a uma certa distância das pistas e porque
nós entramos em praticamente todas por curiosidade e/ou necessidade e também
com as idas e vindas por motivos diversos, chegamos em Joaquín González com
praticamente metade das 1000 milhas pedaladas e começamos a cogitar a possibilidade
que de completaríamos o percurso proposto de 1600 km / 1000 milhas antes do
Rio Paraguay como projetado inicialmente, uma vez que também as informações
de distâncias colhidas, pesquisadas e consideradas durante a montagem e confecção
do projeto não condiziam com as placas de distâncias nas rodovias e muito menos
com as distâncias percorridas in loco, ao vivo e a cores. Naquela altura, pelo
andar da carruagem, se fossemos até o Rio Paraguay, chegaríamos lá com cerca
de pelo menos 2000 km ou 1200 milhas, o que fugiria bastante do projeto “Tour
del Chaco – 1000 Milhas” em todos os sentidos, sendo obrigatóriamente descartada
tal situação.
A partir de Joaquín González e pelos próximos 300 km ( até Embarcación) estaríamos
contornando a Planície de Gualamba em uma área geofísica bem interessante, uma
zona de transição entre o Grand Chaco e a Cordilheira do Andes. Região com vento
fortíssimo e de uma beleza ímpar, pois tínhamos a nossa direita os bosques e
pântanos da imensa Planície do Chaco Gualamba e a nossa esquerda já se destacavam
no horizonte as primeiras formações da imponente e magnífica Cordilheira dos
Andes; alguns campos rasos e árvores bem diferentes mesclavam-se com a paisagem
típica do Chaco.
As etapas 5 e 6 (González – Saravia – Embarcación) nessa região atípica e lindíssima
foram instigantes com um clima temperado propício para pedalar e situações marcantes
como a do gavião que encontramos pouco depois de Saravia. A etapa 6 foi uma
das mais ferozes em termos ciclísticos, por conta de um corredor de vento contrário
que pegamos pela manhã ( por cerca de 60 km), que realmente travou a bike. Mas
com tudo e mais um pouco chegamos na cidade de Embarcación Del Bermejo, bem
próximo da fronteira com a Bolívia, após 20 km tenebrosos entre Pichanal e Embarcación
em uma estrada perigosíssima com muito movimento e um acostamento pedregoso
e traiçoeiro.
Com o Diney arrepiando no apoio, uma bike ágil, robusta e confiável e eu tocando
o horror nos pedais a Tour del Chaco estava empolgante e very, VERY HARD! E
o bicho aos prantos querendo pular fora...
Iniciamos a sétima, penúltima e mais radical de todas as etapas de todas as
Bike Tours na ruta 5 e 30 km depois de Embarcación deveríamos entrar na ruta
81, porém devido a empolgação nem percebemos o trevo que fica atrás de um posto
de controle policial e andamos cerca de 10 km em direção a Bolívia, retornando
após percebermos uma placa que indicava a proximidade da fronteira boliviana.
Depois de cerca de 01 hora finalmente caímos na 81, ou seja, estávamos agora
no Chaco Central, uma área ainda mais selvagem e desértica por estar entre os
dois grandes rios da região ; o Bermejo ao sul e o Pilcomayo ao norte na fronteira
com o Paraguay. Ao entrarmos na rodovia recentemente asfaltada em sua totalidade,
com cerca de 50 km percorridos desde Embarcación não podíamos nem de longe imaginar
que aquele seria o maior de todos os dias e que eu iria pedalar mais de 200
km na imensa reta. Com o gavião a beira da morte e um calor abafado e sufocante,
entrei na 81 arregaçando e logo após a cidade de Hickmann abandonamos “El Gavilán”
em uma árvore, torcendo por um milagre que lhe devolvesse aos céus. Almoçamos
em Fortin Dragones por volta de 14:00 hs e já havíamos passado de 100 km pedalados.
Com uma paisagem estonteante, um asfalto zerado e movimento praticamente zero,
a pedalada foi evoluindo e ao entardecer com cerca de 150 km percorridos, chegamos
na cidade de Coronel Solá, mas não podemos entrar na mesma pois estava tudo
alagado e intransitável. Sendo assim a próxima cidade com hotel estava a pouco
mais de 100 km e eu, após consultar o Diney resolvi estourar a boca do balão
e tentar chegar em Ingeniero Juárez, sabendo que só chegaria lá de madrugada.
Por volta de meia-noite paramos na pequena e simpática cidade de Los Blancos
com 200 km percorridos e fizemos um big lanche em uma mercearia de uma comerciante
muito gente fina. A noite estava mágica com o céu estrelado e uma garoa muito
fina. Cobras,sapos,lagartos e escorpiões aos montes pela estrada, quilômetros
e mais quilômetros sem cruzar ou sermos ultrapassados por qualquer tipo de veiculo,
a bike deslizando no tapete preto, a vida noturna de Gualamba explodindo nossa
frente, os insetos famintos nos devorando a cada parada... Aquela não foi simplesmente uma
noite; foi “A” noite !
Exatamente às 03:50 hs aportamos em Ingeniero Juárez. Nem acreditávamos que
havíamos percorrido praticamente 300 km desde as 08:00 hs do dia anterior quando
saímos de Embarcación em uma jornada radical de 20 horas. Bastante cansados,
porém orgulhosos com a mega etapa cumprida e eu radiante com a quebra em 50
km de meu recorde anterior de distância percorrida em pista que era de 208 km
na Volta do Paraná. Sabíamos que aquela tinha sido a maior, mais furiosa e mais
alucinógena de todas as etapas de nossas aventuras e que, infelizmente, havia
acabado.
Partimos de Ing. Juárez às 10:15 hs para cumprir a última etapa da Tour del
Chaco. O dia estava maravilhoso: nublado,sem mormaço e com vento favorável que
ajudou e muito pois não havíamos descansado o suficiente em Juárez. Estávamos
com um total de 1400 km percorridos e até Las Lomitas seriam mais 165 km que
nos dariam ao final do dia cerca de 99,5% das 1000 Milhas projetadas. Era o
suficiente para encerrarmos a Hard Bike Tour III de maneira satisfatória e gratificante.
A pedalada final foi tranqüila e compassada com muitas paradas para filmagens,
fotografias e trocas de idéias sobre a aventura e o futuro do Break on Through
Project. O interior de Gualamba é lindo demais, uma paz total e indescritível,
extrato destilado de natureza verde. O povo em geral é descendente de índios
e apesar de muito pobre, é amistoso, honesto e sincero. Foi uma tarde agradável
e maravilhosa no coração da imensa Planície, digna de encerramento da difícil
e louca jornada. Chegamos finalmente em Las Lomitas pouco antes das 22:00 hs
com um total de 1580 km e finalizei a Tour del Chaco ou War Chaco em uma capela
na entrada da cidade, satisfeito com minha performance de chegar até ali em
8 dias e 14 horas desde o Rio Paraná, tendo praticado um ciclo-turismo de extrema
resistência e altíssima qualidade em uma região fantástica...
... E o Bicho Chorou em Gualamba...!!
VALEU DINEY, VALEU LYNCON,
VALEU GERAL...
OBRIGADO
!
Lavoisier Richard
Etapa 01 - Descanso para a Batalha - 05/04/2008
Etapa 02 - Chegando no Inferno de Gualamba - 06/04/2008
Etapa 05 - Jararaca nos Momentos Finais - 09/04/2008
Etapa 04 - Gran Chaco Americano - 08/04/2008
Etapa 06 - El Gavilan, La Bike e La Ruta - 10/04/2008
Etapa 08 - Gualamba Eternizada na Memória - 12/04/2008
Aventura Dedicada à Pessoa
de
Solange Coelho
"SOL"
SUPPORT BABY BIKE TEAM
Londrina – Paraná - Brasil “ Aqui o Bicho Chora”
Lavoisier Richard
Lyncon Golfetto
Diney Rodriguez
Ciclista de Resistência
GT bike
Piloto de Apoio
Hard Bike Tour III - Tour del Chaco Planície de Gualamba 1000 Milhas Rio Paraná até Las Lomitas Argentina Abril de 2008